Eu andarei vestido e armado com
as armas de São Jorge. Para que
meus inimigos tendo pés não me
alcancem, tendo mãos não me peguem,
tendo olhos não me exerguem e nem
pensamentos eles possam ter
para me fazerem mal.
Meia-noite de 23 de abril e no céu do Rio de Janeiro começam a pipocar fogos. A cidade é despertada para celebrar o santo guerreiro, Jorge de Capadócia, mártir venerado na igreja católica e cultuado como Ogum nas religiões afro-brasileiras.
Durante muito tempo vivi alheio à figura São Jorge. Devoto de Francisco de Assis e Nossa Senhora Aparecida, nunca entendi o fascínio que o guerreiro exercia sobre uma multidão que enchia as ruas e as telas da TV em que assistia, à distância, com procissões, cultos, festas. Hoje compreendo. E também faço parte da massa.
Quero ser breve, porque um dia pretendo escrever de forma mais profunda sobre isso, mas acredito que a devoção a Jorge tem muita relação com a metrópole. Se antes o culto me intrigava, depois que passei a morar no Rio de Janeiro ele me pareceu muito natural. Como se, ao viver neste lugar, automaticamente me tornasse devoto deste santo protetor.
Retornando à questão que quero tratar neste post: acho que a metrópole te obriga a empunhar as armas de Jorge. Sei que é uma fé que existe em todas as regiões do país (e do mundo), inclusive aquelas rurais e periféricas, contudo acredito que na metrópole, em especial, estamos expostos a tantos perigos, tantos riscos, são tantos os dragões, que vestir essa armadura se impõe como uma necessidade primária - não só na metrópole, na sociedade moderna como um todo; mas especialmente na metrópole, me entendam.
Diante de todos os dragões, a invocação a Jorge é uma arma a mais para a luta. Junto com o terço mariano, para uns; as guias dos orixás, para outros. É no sincretismo tão tipicamente brasileiro que a fé em Jorge floresce.
Hoje é dia de Jorge. Dia dos guerreiros. Daqueles que têm que vencer um dragão por dia para sobreviver. Têm que se desviar da bala, dos carros, do prédio e até do bueiro. Da vizinha fofoqueira, do colega invejoso, do patrão mau caráter. Dos inimigos inimigos visíveis e invisíveis. Hoje é dia de comemorar a luta, a vitória nossa de cada dia nesta terra louca para nos devorar.
2 comentários:
Salve, Ogum!
Gostei muito do último parágrafo.
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