Vencer a violência, vencer essa tristeza. É só uma parte deste começo.
Trecho de uma canção do CD Minha Vida, Minha Música (Borel)
Amantes das Artes - Dança de Rua
Não tem jeito, vira e mexe a gente acaba retornando ao lugar onde estamos. Mais uma vez, falarei sobre o Borel. Já contei aqui sobre as mulheres, os meninos, a comerciante prestes a ser despejada. Hoje não quero falar de um grupo específico. E me desculpem se restar a impressão de samba de uma nota só. É que determinados acontecimentos, determinadas coisas, determinados lugares nos tocam de forma tão profunda que vira uma quase obrigação compartilhar com o mundo.
O dia foi sábado. O local, a Praça Xavier de Brito - tradicional recanto da família tijucana que leva seus filhos para passearem a cavalo nos fins de semana, em um cenário quase bucólico, quase interiorano: um chafariz, um coreto, parquinho, árvores, os velhinhos jogando baralho. O objetivo eram vários e era um, integração. Entre as sete favelas, entre as favelas e o bairro, entre o Estado e as pessoas.
Ao construirmos o projeto, junto com as comunidades, a partir da comunidade, pensamos em invadir aquela praia. Chamar a atenção dos nobres tijucanos sobre a produção artística, social e de geração de renda existente nas favelas do entorno - que, anote-se, não foram inventadas após a "pacificação", mas já existiam e continuarão a existir com ou sem ela. Era um presente, na verdade, ao asfalto: com o "Comunidade na Praça", buscávamos (re)apresentar a parte alta do bairro, com todos os seus talentos e com o mínimo de estereotipia possível. E não é que conseguimos*?
E se não há como descrever com exatidão o que se passou, acho que algumas imagens dão conta de colorir esse meu relato: a artesã tijucana que descobriu que não precisa viajar mais à Copacabana em busca de costureiras, ao contrário, conheceu o grupo de artesãs comunitárias que se reúne a poucos metros de sua casa e contratou duas ali, no ato; o produtor cultural garimpeiro de jovens talentos que, estando na praça, descobriu algumas preciosidades, trocou contatos com os grupos e apresentou-lhes seu projeto de intercâmbio cultural com universidades americanas; a senhora, já bem velhinha, que descobriu, espantada, que aquela rádio que animava a praça [Rádio Comunitária Grande Tijuca] existia "de verdade"; a outra senhora, um pouco mais velha, que quis subir ao palco para dançar funk e dança do passinho com a molecada da Casa Branca; a piscina de bolinhas lotada de crianças e com uma coloração especial: pretos, brancos, ruivos, Estrada da Independência, Conde de Bonfim, Casa Branca, Borel, Chácara...
A todos estes, soma-se um momento, logo no início da manhã, em que a Praça parou para ouvir o que se passava no palco (palco, aliás, que muito me orgulho de termos conseguido reunir uma pluralidade incrível de grupos artísticos, da música gospel à black music, dança contemporânea à capoeira, todos daquelas sete favelas). Foi quando o baterista de uma das bandas deixou a batera e foi para o microfone. Em alto e bom som entoou o Funk do Borel, um hino que me emocionou e tocou todos que passavam pelo local. Foi o aplauso mais forte, mais sentido, mais consagrador que seu ouviu naquele dia. Não apenas pela (excepcional) banda que estava sobre o palco. Mas sobretudo porque a canção sintetizava um pouco daquilo tudo que estávamos fazendo ali.
Prazer, Tijuca, nós somos o Borel.
Funk do Borel. A praça parou. Para um segundo pra ouvir também.
Matéria sobre o evento. Dá pra ver um pouco do que escrevi aí em cima.
* quando estou falando em primeira pessoa (nós), não me refiro à equipe de trabalho da qual faço parte. Falo de nós todos envolvidos no evento - a equipe, as associações, ONGs, os grupos artísticos, todos nós.
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Em tempo: que belíssimo o julgamento sobre as cotas raciais no STF. Emocionante a unanimidade. Juridicamente incontestável a decisão. Quebrou o coro dos intelectuais de "sofismas e argumentos tortos", como disse Miriam Leitão em brilhante artigo sobre as cotas. Uma por uma, as falsas questões foram sendo derrubadas. Foi emocionante! Uma vitória sem precedentes!
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Em tempo: que belíssimo o julgamento sobre as cotas raciais no STF. Emocionante a unanimidade. Juridicamente incontestável a decisão. Quebrou o coro dos intelectuais de "sofismas e argumentos tortos", como disse Miriam Leitão em brilhante artigo sobre as cotas. Uma por uma, as falsas questões foram sendo derrubadas. Foi emocionante! Uma vitória sem precedentes!
Um comentário:
Você é phodda!
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