05/07/2011

As lições do Congresso - Pt. 1

Na última semana, participei de um evento que deveria ser obrigatório para todos aqueles que se aventuram nessa profissão tão apaixonante que é o jornalismo: Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo.
Ao contrário do que se pensa à primeira vista, o evento não trata apenas de investigação criminal, câmeras escondidas, denúncias ou coisas assim. Como “jornalismo investigativo” é quase um pleonasmo, o congresso se propõe a discutir o fazer jornalístico, de forma geral.
Reproduzo, a seguir, algumas das principais falas que registrei nas dez mesas que participei. Foram todas muito boas. Algumas, excepcionais. Espero que gostem:


“Tem riscos. Dá para entrar”
Andrei Netto, repórter preso na Líbia, em email ao Estadão antes de entrar no país conflagrado


“A revolução digital impõe mudanças radicais e cria um novo ecossistema de mídia. Não dá pra continuar fazendo jornalismo do mesmo jeito
Rosental Calmon Alves - O Cara (busque no Google)


“A nossa obrigação como repórter é captar a complexidade da realidade. O silêncio, os gestos, os cheiros falam muito sobre o real. Não podemos ser meros reprodutores de aspas
Eliane Brum – A Musa Inspiradora


“Não existe ninguém sem interesse. Se não tem interesse, provavelmente não vai te servir. O seu trabalho não é descartar quem tem interesse, mas sim cruzar as versões e descobrir o que há de fato ali”
Renata Lo Prete (Folha de São Paulo), sobre a relação com as fontes


“É a forma mais cruel de intimidar a imprensa, pois o assassinato não silencia apenas o repórter morto”
Rodney Pinder (INSI), sobre os homicídios contra jornalistas


“A imprensa vai servir ao interesse público ou aos interesses comerciais?”
Jens Sejer Andersen (Play the Game*), sobre a cobertura dos grandes eventos esportivos – Copa 14 e Rio 2016


“O ‘outro lado’ não é apenas uma etapa formal, é primordial, pois às vezes te ajuda a ver o que não viu. Temos que esgotar a investigação”
Marta Salomon (Estadão)


“Só permaneçam nesta profissão se tiverem amor por ela”
Mônica Puga (SBT)


“A primeira ideia é sempre ruim. A segunda e a terceira também. Talvez a quarta seja boa”
Eliane Brum, sobre o difícil processo de construção de uma pauta


“Cinco minutos de planejamento podem salvar a sua vida”
Marcelo Moreira (Globo)


“O jornalista tem que ser um sujeito indignado. Um eterno indignado com as situações”
Bette Luchese (Globo)

5 comentários:

Thayra Azevedo ♥ disse...

“A nossa obrigação como repórter é captar a complexidade da realidade. O silêncio, os gestos, os cheiros falam muito sobre o real. Não podemos ser meros reprodutores de aspas”. Eliane Brum

Anônimo disse...

"Como “jornalismo investigativo” é quase um pleonasmo", o congresso se propõe a discutir o fazer jornalístico, de forma geral."

Essa foi a melhor frase, não gravaram essa não, é só você que tem que gravar, companheiro?! Eu nunca tinha parado para pensar sobre isso. Frase de livro de cabeceira.

Jader Moraes disse...

Frase de cabeceira, Daniel? haha
Essa é minha, pode anotar aí: Jader Moraes. rs
Thayra, conhece a Eliane Brum? Fantástica. Acho que você vai gostar dela, dá um "google" pra ver...

Unknown disse...

tenho andado "deslumbrado" (intrigado, talvez?) com o que a internet tem sido capaz de fazer com a comunicação entre as pessoas, mas acho que o jornalismo tá perdendo a qualidade por conta de se pautar por twitters e facebooks (vide o lamentável caso da "morte" do tal apresentador da Record)

Jader Moraes disse...

Gabriel, tendo a achar que o jornalismo ainda está aprendendo a lidar com a internet. Por isso tantos tropeços. É uma visão otimista, admito. rs
Acho que será importante se nós jornalistas, diante do vislumbre com as novas tecnologias (e suas mil possibilidades), nos mirarmos em outra frase da Eliane Brum, que acabei não colocando aqui: "O lugar da nossa busca é sempre na rua. Isso não muda"