Minha vida é um brevíssimo segundo
Minha vida é um só dia que escapa e que me foge
Santa Terezinha do Menino Jesus
Todas as vezes que episódios como o ocorrido na Praça Tiradentes acontecem, me pego pensando em quanto tudo é tão estúpido. A moça acordou cedo, como todos os dias, tomou café, se despediu dos filhos, foi trabalhar. E não voltou mais. O jovem passava pela rua, talvez para ir à banca de jornais, e de repente tudo acabou.
A vida é estúpida. Um breve instante entre duas eternidades, para os crentes. Um breve vácuo entre dois nadas, creem os céticos. Breve, sob qualquer dos pontos de vista.
Por isso o "Carpe Diem", tão exaustivamente repetido que se tornou clichê, segue como uma das expressões mais fortes e verdadeiras que conheço. Viver o dia é, de fato, o grande desafio. Assim, permitam-me uma pequena reflexão - ou conjunto de clichês, como preferirem. Funciona como (auto-) exortação:
Deixemos o orgulho de lado, paremos de nos preocupar com causas insignificantes, rejeitemos a ira, o rancor, todos os sentimentos que destroem, nos livremos das amarras do preconceito, e vamos viver! Viver é também tudo isso, irão questionar. Pondero: compreendo, mas é mais que isso. E por vezes estamos nos perdendo nisso, que, se faz parte, certamente não é a razão de estarmos aqui.
Estamos aqui, e acredito cada vez mais nesta verdade, para sermos (e fazermos) felizes. O resto, já diria a presidenta, são ossos do ofício.
Gonzaguinha dizia que ela era bonita, uma doce ilusão. Einstein, que era muito para ser insignificante. João Guimarães Rosa a definia de um modo um pouco mais sofisticado: ela quer da gente é coragem! Eu sigo insistindo que ela é estúpida: mal começa, termina. Abruptamente começa, abruptamente termina.
A escolha, como sempre, é nossa: ou vivo intensamente este segundo, ou deixo passar. E ela passa. Levantamos, vamos trabalhar, voltamos para casa. E ela passa. Lemos Foucault, estudamos quinze horas por dia, nos perdemos em nossos mestrados e doutorados. E ela passa. Viramos a noite com o trabalho que levamos para casa, levantamos cedo para ir ao jornaleiro, escolhemos a calçada da direita - a da Praça é perigosa -, passamos em frente àquele bistrô de sempre. E de repente tudo acaba.
E então, vivemos?
Um comentário:
Jader, você sabe que tive uma doença séria que me colocou frente à frente com a morte. E eu precisei dialogar com ela.
Não é todo mundo que tem esta oportunidade, esta chance de encontrar o verdadeiro valor da vida e muitos que ganham esta chance de presente, não a aproveitam.
A vida não é estúpida. A vida é a vida, sem qualificativos.
Por ser a vida, tem de tudo. Se não fosse vida, seria tédio.
E a morte, seja ela de surpresa ou não, é um dos principais eventos da vida, se não for o principal, por se o último e talvez mais marcante.
Carpe diem, sim, meu querido! A vida é hoje; na prática, mesmo, a vida é hoje. O que foi o ontem? O amanhã virá?
Por isso temos que viver bem, amar bem, cuidar de nossas almas e corpos, cuidar dos outros, ter satisfação, trabalhar com e por prazer, rolar com o cachorro, correr no vento, beijar muito na boca, fazer sexo com quem a gente ama, ler muito (por prazer), estudar muito (por prazer) e mais um monte de outras coisas que não vemos, por motivos vários.
Viver, Jader. Hoje. Sempre.
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