Há pouco tempo, falei aqui da alta carga de jornalismo panfletário assumido por alguns grupos nesta época eleitoral. Não que seja errado o jornal possuir um lado. Pelo contrário, é direito da empresa. Mas é direito do público saber de que lado aquela publicação está.
A Carta Capital, e cito ela porque foi a única que vi fazer, assume em editorial que apoia determinada candidatura. Pode-se discutir se o jornalismo, como formador de opinião, pode abraçar de tal forma determinado candidato. Mas certamente é muito mais honesto com o leitor que, ao ler a revista, sabe exatamente em que posição do campo político ela está situada.
A manchete de domingo (05/09) da Folha de São Paulo, um dos mais respeitados jornais do país, foi lamentável. Jornalismo panfletário da pior espécie. Certamente (como dois e dois são quatro) será utilizado pela propaganda eleitoral de um dos candidatos – e dá até pra suspeitar se não seria este o objetivo quando tal manchete foi produzida.
E a resposta à manchete, quase imediata, veio da forma mais democrática possível: através da internet, do microblog twitter, espaço livre de circulação de ideias. A hashtag #DilmaFactsByFolha, que rapidamente se transformou numa das expressões mais postadas pelos internautas brasileiros (TTBR), foi um indicativo de que a falta de honestidade do veículo teve um preço. E o preço que o jornalismo paga por faltas como essa é a gradual perda da credibilidade – o bem mais precioso de todos.
Repito: Jornalismo não precisa ser imparcial. Tem que ser honesto. Melhor dizer "apoiamos fulano" que simular uma falsa isenção. Jornalismo que tenta ludibriar a opinião pública com imparcialidade inexistente não merece crédito.
Tomara que o movimento ajude o jornalismo brasileiro a repensar alguns pontos. Porque não foi uma resposta exclusiva a uma manchete da Folha, mas sim uma crítica dos que já estão saturados da forma com que a imprensa vem se comportando nos últimos meses – quiçá, nos últimos anos.
Até torço para que os jornalistas (da Folha, da Veja, do Globo, da Carta, do Ig, das academias, de onde quer que seja) aprendam alguma coisa com o episódio. Mas, sinceramente não creio que os jornalistas deem o braço a torcer, revejam os erros e passem a andar por outra trajetória. Afinal, evocando mais uma vez a figura do Noblat, cientista é que pensa que é Deus. Nós, jornalistas, temos certeza.
E não daremos o braço a torcer, mesmo que os fatos mostrem que estamos no caminho errado...
A manchete da Folha
Um comentário:
Simplesmente SENSACIONAL a reação no twitter. Como diz Ricardo Kotscho, "Foram-se os tempos em que eles faziam ou derrubavam presidentes e se julgavam os verdadeiros donos do poder, os formadores de opinião, os únicos proprietários da verdade(...)Quem sabe agora tenham a humildade e o bom senso de reconhecer que acabou a época dos formadores de opinião abrigados na grande imprensa, que perde circulação e audiência a cada dia. Novos meios e novos agentes multiplicaram-se pelo país, democratizando a informação e a opinião. Ninguém mais precisa dizer o que devemos pensar, como devemos votar, o que é melhor para nós. A liberdade de imprensa e de expressão não tem mais meia dúzia de donos. É um direito conquistado por todos nós."
Valeu, Jader. animou ainda mais o meu final de domingo!
Postar um comentário