16/02/2009

Páginas Policiais

Não sei, mas acho que estou realmente ficando louco...


Rio de Janeiro, Zona Norte. Domingo, 19h

O ônibus em alta velocidade tenta, orientado por um passageiro, fugir da rota da PM. O caveirão, mais uma vez, estava invadindo um morro carioca - a Mangueira.

De repente, estamos na contramão da avenida e a tensão parece aumentar. O motorista ainda está um pouco perdido e agora nem os próprios passageiros conseguem entrar em consenso sobre o melhor caminho a seguir. À minha volta percebo alguns homens assustados, que entre uma Ave Maria e outra, abrem os olhos pra tentar enxergar uma saída.

Mas eu continuo tranquilo, bloquinho à mão, como se nada estivesse acontecendo.
Afinal, o que estava realmente acontendo?

"Mataram um maluco lá no Pedregulho" - avisa o policial, que à certa altura entra no ônibus.
"Ufa! Não é nada muito grave" - ouço, incrédulo, o suspiro aliviado de um passageiro.

A viagem segue tranquila (pro Jader, ao menos). Cruzamos, no caminho, com alguns outros veículos e os passageiros fazem questão de informar aos motoristas e pedestres desavisados o perigo iminente que surgiu naquelas bandas de lá.

Meu ônibus, para casa, sai em menos de cinco minutos, quando chego à rodoviária. Ali, o clima não estava menos tenso. Corre-corre, gritos, cirene... nada que fuja à rotina de um domingo a noite pós-clássico: torcedores rubro e alvi-negros se 'pegando' em frente à Novo Rio.

Mas, pra mim, tudo é novidade. Tudo vira foto, anotação. Tudo vira registro de blog...

Subir no ônibus, naquela noite, foi diferente. Ficou a sensação de ter deixado um mundo pra trás. Um mundo louco, curioso, dinâmico. Demorei um pouco pra perceber que aquilo era "mundo real", que vivi uma situação de risco, que um homem tinha morrido aquela noite e outros mais poderiam morrer, que não era tudo tão fantasioso como eu estava anotando no meu bloco. Não! Apesar do cenário sugerir, não eram cenas de novela...

Era o meu Rio de Janeiro. Um Rio que eu ainda não conhecia, a não ser pelos inúmeros noticiários que figuram os jornais diariamente. Um Rio fantástico, cheio homens e mulheres fantásticas, que mesmo depois de um susto (um baita susto, raciocino agora comigo), mantêm o sorriso furtivo no rosto, daqueles sorrisos que só esse povo consegue dar, pra lhe tranquilizar e desejar: "Boa Viagem. Vai com Deus!"

Um Rio que continua lindo e continua sendo...

4 comentários:

Thayra Azevedo ♥ disse...

A música perfeita para descrever o conjunto de sentimentos que passou é "Nossa Lagos em dias de sol' de Nadia Santolli.

"Apesar disso tudo, o Rio continua lindo, A lagoa em dias de sol, pra lembrar...Que a paz se esconde em algum lugar; Apesar disso tudo, o Rio continua lindo.A beleza do azul desse céu, desse mar...Está no olhar dessa gente; Segue e canta uma melodia de paz; Paz! pra o Rio de Janeiro. paz! pra o ano inteiro.Paz no meio dessa guerra! pra quem não se nega, Pra quem se entrega, haverá verdadeira paz, Muito além das notícias, existe paz em meio à guerra. Derramada lá dentro do coração...De uma gente que acredita e aceita a salvação...Que Deus abençoe o Rio... e sobre ele seja a sua paz"!

Giovana disse...

Oi, meu querido! Bem vindo ao mundo real, portanto. Adorei o relato. Beijos!

Unknown disse...

Palavras pra descrever a mais forte das sensações que experimentei ao ler o texto: ORGULHO.
Espera, você vai entender.
Fiquei confusa durante um trecho do texto porque não sabia se era você quem tinha escrito ou um LFVeríssimo ou alguém do gênero. :P Tá, tava falando de ônibus, mas eles (os gigantes) contam umas histórias de metrô às vezes. Acho que quando a vida deles tá meio sem graça eles brincam de ser pobres. Mas senti orgulho ao confundir seu 'ritmo', seu 'som' de texto com o de algum famoso. Gosto cada vez mais do som que minha mente faz ao ler o que você escreve.
As outras sensações foram as sensações normais ao ler uma narração incomum pra quem mora no interior.
Pra gente como eu e você, até o que é feio tem sua beleza, tem seu charme. Porque eu não me lembro nunca de ter ouvido outra pessoa além de nós dois (e Tássila) dizer que algo que todos consideram ruim é "maneiro", ou pior, "maneiraço". rs
Eu não conheço nem o Rio lindo nem o Rio ponto mas quero conhecer os dois pra poder descrever a emoção de ser parte das engrenagens, mesmo as enferrujadas, da Cidade Maravilhosa.

Tatiane disse...
Este comentário foi removido pelo autor.