23/04/2012

Salve, Jorge!

Eu andarei vestido e armado com 
as armas de São Jorge. Para que 
meus inimigos tendo pés não me 
alcancem, tendo mãos não me peguem, 
tendo olhos não me exerguem nem 
pensamentos eles possam ter 
para me fazerem mal.

Meia-noite de 23 de abril e no céu do Rio de Janeiro começam a pipocar fogos. A cidade é despertada para celebrar o santo guerreiro, Jorge de Capadócia, mártir venerado na igreja católica e cultuado como Ogum nas religiões afro-brasileiras.

Durante muito tempo vivi alheio à figura São Jorge. Devoto de Francisco de Assis e Nossa Senhora Aparecida, nunca entendi o fascínio que o guerreiro exercia sobre uma multidão que enchia as ruas e as telas da TV em que assistia, à distância, com procissões, cultos, festas. Hoje compreendo. E também faço parte da massa.

Quero ser breve, porque um dia pretendo escrever de forma mais profunda sobre isso, mas acredito que a devoção a Jorge tem muita relação com a metrópole. Se antes o culto me intrigava, depois que passei a morar no Rio de Janeiro ele me pareceu muito natural. Como se, ao viver neste lugar, automaticamente me tornasse devoto deste santo protetor.

Retornando à questão que quero tratar neste post: acho que a metrópole te obriga a empunhar as armas de Jorge. Sei que é uma fé que existe em todas as regiões do país (e do mundo), inclusive aquelas rurais e periféricas, contudo acredito que na metrópole, em especial, estamos expostos a tantos perigos, tantos riscos, são tantos os dragões, que vestir essa armadura se impõe como uma necessidade primária - não só na metrópole, na sociedade moderna como um todo; mas especialmente na metrópole, me entendam.

Diante de todos os dragões, a invocação a Jorge é uma arma a mais para a luta. Junto com o terço mariano, para uns; as guias dos orixás, para outros. É no sincretismo tão tipicamente brasileiro que a fé em Jorge floresce.

Hoje é dia de Jorge. Dia dos guerreiros. Daqueles que têm que vencer um dragão por dia para sobreviver. Têm que se desviar da bala, dos carros, do prédio e até do bueiro. Da vizinha fofoqueira, do colega invejoso, do patrão mau caráter. Dos inimigos inimigos visíveis e invisíveis. Hoje é dia de comemorar a luta, a vitória nossa de cada dia nesta terra louca para nos devorar.

Amém! Saravá!



11/04/2012

O Fantástico Mundo de Jader no Purgatório da Beleza e do Caos - Ano I

Coisa mais linda, cheia de graça...
Foto belíssima do amigo Weder Ferreira

Há exato um ano, saí de casa rumo ao que muitos chamavam de "ilusão". Aquela cidade cheia de encantos mil seria inverossímil fora das lentes ficcionais de Manoel Carlos. Outros, e essa ala também era grande, acreditavam que eu estava cometendo uma loucura. Trocar a cidade pequena, os amigos tão próximos, o aconchego da família, pela metrópole conturbada que viam nos jornais não podia ser uma decisão sábia.

Não tiro a razão de um grupo nem de outro.

Encontrei a ilusão. Nas esquinas do Morro, nas ruas da Lapa, na Quinta lotada para gritar a Consciência Negra, na Casa Verde em que estou internado desde que cheguei aqui, nos bares, nos lares, estádios, nas amizades que fiz.

Encontrei também a realidade, nua e crua, bem ao gosto do freguês: os racistas escondidos na sacristia, os mesmos de sempre fazendo os mesmos de sempre com os mesmos de sempre, a política em sua pior forma, o garoto que revirava o lixo à procura de comida, o garoto maltrapilho que me levou vinte reais na saída da rodoviária, o esgoto, o descaso, a mentira.

[pobreza de espírito essa nossa mania de achar que a felicidade é ilusória enquanto a crueza da vida, somente ela, pertence ao mundo real]

Eu e os melhores momentos, ao lado das melhores pessoas

A vida deu um giro e a impressão é que vivi mil anos em 365 dias. Envelheci. Rejuvenesci. ♪ Mudaram os horários, hábitos, lugares, inclusive as pessoas ao redor / São outros rostos outras vozes, interagindo e modificando você 

Mas acho que as experiências, os fatos, as emoções deste último ano já estão devidamente registradas neste blog (pode ler aqui, ou aqui, ou então aqui, ou mesmo aqui, se quiser aqui, aqui uma vez mais, e em muitos outros). Neste post quero sobretudo agradecer publicamente:

- aos que, concordando ou não, respeitaram minha decisão e compreenderam o quão importante para mim era vir para cá (mãe, pai, Vini, Bia);

- àqueles que me fizeram sentir em casa aqui (Anderson, Anelise, Clarissa, Isis, Mari, André, Bruno, Lu, Tete, Vivian, Ricardo, Jo, Livia, Tati, Aline, Victor e, claro, Borel);

- aos que me ajudaram de alguma forma neste processo (Gabriel, Léo, Pingo, Sheila, Lucas, Ana, Mads, Dona Helena);

- e à todos, enfim, que me fazem sentir saudade imensa de Volta Redonda (Giovana, Ricardo, Fernanda, Tássila, família, JC, Jo, garoto que roubou o coelho na Praça Brasil - porque, na moral, tem coisas que só acontecem em VR! rs).

Obrigado a todos - e especialmente aos que esqueci de listar, mas de antemão já me perdoaram!

E aos que tinham medo, aos que tinham dúvidas, quero tranquilizá-los. A cidade que sempre sonhei, sempre amei e sempre desejei viver é ainda melhor do que eu poderia imaginar. 

Por que escolhi esta foto para encerrar? Não sei. É na Providência,
só para constar. E foi espontânea. Gosto dela.