Da série meticoacritico.com:
A trupe de Selton Mello
Finalmente assisti o aclamado filme O Palhaço, escrito, dirigido e protagonizado por Selton Mello. E, de cara, faço um alerta: não espere nada demais do longa. Ele é simples. Bem simples. E por isso é encantador!
O roteiro bem construído, o elenco afinado, a direção inspirada, a fotografia belíssima, tudo é favorável ao longa, que entrou na categoria hors concours do Festival do Rio. O filme conta a história de um palhaço em crise de identidade. "Eu faço o povo rir, mas quem é que vai me fazer rir?", questiona Benjamim a certa altura, numa cena de incrível sensibilidade.
Rodado em estilo road movie, o filme diverte desde os primeiros minutos e envolve o espectador por trazer à cena pequenos dramas de um trupe circense, igual à tantas outras que ainda hoje resistem Brasil a fora. A escassez de público, as dificuldades financeiras, as trapaças, o fim que se aproxima (e inevitavelmente uma hora vai chegar), está tudo ali.
Do elenco, não há um grande destaque: Paulo José e Selton Mello emocionam e fazem rir na pele de pai e filho, o elenco de apoio está bem entrosado e as participações especiais são, todas, enriquecedoras - com destaque para Moacyr Franco, que protagoniza o que talvez seja um dos momentos mais divertidos da fita.
E se Selton Mello é apenas correto ao achar o tom certo de seu palhaço, na direção do longa ele se mostra um gigante. E brilha. Este é seu segundo filme como diretor - o primeiro, Feliz Natal, também foi bastante elogiado, mas ainda não vi - e Selton consegue imprimir uma marca bem particular à sua obra.
Quer seja pelas tomadas que captam as reações do respeitável público, pelo ritmo do filme que não cai em um segundo sequer, por alguns ângulos bem criativos ao longo dos 88 minutos ou pela feliz harmonia do elenco. Ou ainda pela belíssima cena final, gravada em um plano-sequência bem interessante, a todo momento sente-se a mão firme e segura do diretor. Como amador que sou, não são em todos os filmes que percebo a interferência do diretor na construção da narrativa. Neste, o Selton-diretor sobra em cena.
E fora o que já ressaltei, destaca-se também a trilha sonora, que remete ao circo, como não poderia deixar de ser, mas tem boas nuances, transitando bem entre as cenas mais alegres e aqueles mais reflexivas, além de fazer uma justa homenagem à nossa música popular. Aliás, o longa é uma obra de exaltação da cultura popular e faz isso com maestria!
Enfim, um filme imperdível, por sua beleza, singeleza e por trazer a boa comédia de volta às telas do cinema nacional (depois de algumas bombas recentes). Estreia dia 28 de outubro no circuito comercial e se eu fosse você garantiria logo um lugar.
Trailer do filme
Em suma: Faço coro ao grande crítico Pablo Villaça, quando diz que o Brasil já tem seu candidato ao Oscar 2013. Acho que seria indicado tranquilamente ao prêmio de roteiro original. Ainda na briga por fotografia (belíssima), direção (inspirada) e, claro, melhor filme estrangeiro.
Parabéns ao Selton Mello. Filme simples e encantador!