22/11/2010

O show é nosso. Ou: o show somos nós!

15 minutos de fama. Esse foi o prognóstico de Andy Wahrol sobre as gerações futuras, ainda na década de 60. A previsão foi prontamente atendida pela juventude deste início de século – só que as aspirações dessa nova geração, de blogueiros e twitteiros, está muito além da fama, simplesmente. Agora eles querem é ser alguém. Mais que mostrar seus talentos, querem mostrar o que pensam, como são.

Aliás, não sei porque uso “eles”. Somos nós! Estamos nos constituindo em uma outra via, alternativa, por onde hoje circulam as informações. Não queremos apenas ler notícias, conhecer as versões dos grandes veículos. Agora, podemos – e queremos – dar a nossa versão, ajudar na construção do conteúdo.

O exemplo máximo dessa nova forma de fazer comunicação é o blog (seja este aqui, em que posto agora, ou o microblog twitter e toda a revolução que ele trouxe). Mas não são apenas as páginas pessoais que estão transformando a comunicação – e o jornalismo, especificamente.

Sites como Overmundo, Observatório de Favelas e até mesmo (por que não?) o Eu, Repórter, do O Globo, demonstram bem essa nova realidade que estou falando. Ainda que com objetivos diferentes, sobretudo no caso do Eu, Repórter, a novidade de cada um desses sítios é a mesma: passamos de leitores passivos a sujeitos ativos na narrativa dos fatos, opiniões, versões.

Também é possível aqui fazer referência a canais como o YouTube ou o MySpace; as redes sociais, como o Facebook; ou ambientes virtuais como o Second Life. Em todos esses espaços, no fundo está o desejo humano de significar (sim, tentei falar como um intelecutal agora, rs).

No livro O Show do Eu, a pesquisadora brasileira Paula Sibilia discorre sobre essa mudança de paradigma na comunicação do século XXI. Vale a pena clicar no site do livro, que dá uma mostra bem bacana de tudo que estou discutindo aqui. Tem o primeiro capítulo da obra para baixar também.

Da pra ter um panorama geral dessa mudança. Mas, sinceramente, acho que nem precisamos de um guia para entender as transformações. Afinal, somos os protagonistas dessa nova era e estamos ligados, plugados, conectados com as novidades deste Admirável Mundo Novo...

08/11/2010

Quem lucra com a falência do Enem?

Cobremos para que erros não mais aconteçam, mas sejamos intransigentes na defesa do Exame

Não, o Enem não está falido. O título tem um pouco de exagero contido nele – e revela também um desejo de um setor econômico do país.

Sim, pois existe quem se beneficie com a perda de credibilidade do exame. Há o desejo (não) oculto do “quanto pior, melhor” em relação ao Enem de um importante segmento da sociedade. Não faço aqui colocações políticas. Não é PSDB, o DEM, o PT ou qualquer sigla partidária. O problema aqui é, sobretudo, da ordem econômica, e não política.

O Novo Enem, que foi aplicado pela segunda vez este ano, nasceu com um objetivo principal: mudar os currículos do ensino médio. Sei, ele é porta de entrada para as universidades, unifica os processos seletivos, amplia as oportunidades, entre outros belos “adjetivos”.

Só que não é apenas isso. Aliás, é muito mais que isso: o Enem, da forma com que está sendo proposto, é uma revolução na própria educação básica brasileira. As escolas, que montam seus currículos orientados para “o que cai no vestibular”, agora deverão dedicar maior atenção ao raciocínio, e não à decoreba; às aplicabilidades práticas das matérias de Ciências Exatas, no lugar da “simples” aplicação de fórmulas; à história da África e dos povos indígenas, e não apenas da Europa; pois, afinal, é isso que está caindo no novo vestibular.

Neste contexto, quem ganha é a educação básica, sobretudo o Ensino Médio, que sempre foi a fase mais tediosa do ciclo escolar. Ganham os estudantes, que não precisarão mais ser adestrados para tentar uma vaga na universidade. Ganham os professores, que poderão ser mais propositivos, valorizar o raciocínio e fugir de formulas prontas, rígidas e inúteis.

E quem perde, então? Quem lucra com o adestramento dos jovens estudantes para enfrentar esse troço chamado vestibular. Porque, para eles, é importante que o ensino básico não sirva para nada na hora do ingresso na universidade, é importante que essa massa de estudantes tenha que frequentar um cursinho, mesmo depois de doze anos de estudo, para aprender a decorar fórmulas e a se livrar das famosas pegadinhas das provas. É importante que essa indústria dos PRÉ-VESTIBULARES continue a funcionar.

O Novo Enem, como vem sendo aplicado e com os objetivos que aspira, simplesmente desmonta essa indústria. Ainda que continuem a existir, os cursinhos perdem força neste contexto. Vale mais o que você desenvolveu na vida estudantil do que as fórmulas que vão enfiar na sua cabeça durante aquele um ano de preparatório (e que você já vai ter esquecido no ano seguinte).

Então, é importante cobrarmos para que erros do Enem sejam minimizados e os estudantes devem, sim, reclamar seus direitos, pois os responsáveis devem explicações à sociedade. Mas precisamos ser firmes na defesa do exame. Cobrar para que erros não aconteçam, mas defender até o fim essa revolução que se propõe.

E, sobretudo, precisamos estar mais atentos para isso: a quem interessa que o Enem fracasse? Quais interesses estão sendo contrariados com essa nova forma de acesso à universidade? O meu, o seu e o das universidades, não – tanto que aderiram em peso.

Tem gente grande, tem uma indústria imensa, incomodada com o Novo Enem. E não, essa não é uma teoria da conspiração.


Aconselho este trecho de um programa da CBN desta segunda-feira. Bem interessante e, em linhas gerais, discute isso que coloquei no texto: http://migre.me/24Sui
Aqui, uma entrevista do Haddad (ministro da Educação) ao O Globo em que bate forte no conceito de "Pré-Vestibular" http://migre.me/24Xk3 e http://migre.me/24Xte
Por fim, esse post do jornalista Paulo Henrique Amorim. Ótimo também: http://migre.me/24XOw