As ruas de Paraty te obrigam a andar devagar. Esse foi o primeiro ensinamento que apreendi da cidade. E talvez o ensinamento mais valioso.
Devagar a gente tem tempo pra olhar pro lado, ver cada detalhe, cada rosto, cada pessoa. O tempo também anda devagar nessas condições.
O Centro Histórico de Paraty tem um encantamento difícil de expressar, fácil de entender por quem já andou por aquelas bandas.
Os cinco dias da Festa Literária Internacional de Paraty foram incríveis. Mais que eu poderia supor.
Trabalhei pra valer, me diverti pra valer. E valeu!
Primeiro dia e logo o encontro com o homem-borboleta, um jovem senhor que depois de viajar por 25 países escolheu as ruas de Paraty para contar suas histórias. Mais à frente, um encontro quase mítico, quase místico: a sereia e o pirata – artistas populares dando o tom da festa.
O terceiro dia começou quente, com a nova-velha-infinita discussão sobre o fim dos livros. E eis que a Flip mesmo dá a resposta: não, a leitura não está ameaçada pela tecnologia. Ou, nas palavras do simpaticíssimo Ancelmo Gois, jornalista com J maiúsculo, boa praça que tive a honra de entrevistar: não dá pra imaginar um mundo sem os encantos de uma livraria...
(E aqui, entre o terceiro e o quarto dias, uma noite para ficar guardada para sempre na memória. De tudo um pouco, e no fim apenas a certeza de que somos loucos... Valeu Fernandinha, Bela, Willian e Felipinho!)
Quarto dia traz o estranho sabor de fim de festa. E traz também uma constelação de estrelas, de Shelton a Eagleton, McCann a Crumb (!!!), que certamente não caberiam nestas quatro ou cinco linhas que me propus a escrever. Então me dedico a um apenas, um brasileiríssimo, gigante pela própria natureza – Ferreira Gullar, com seus oitenta anos de história, fez rir, emocionou, tornou a tarde de sábado inesquecível.
E no derradeiro dia, duas mulheres me roubaram o coração. Wendy Guerra, a cubana, faz do impossível, possível e, guerreira, vence a isolamento da Ilha e é reverenciada em todo o mundo – menos em sua terra natal. E, a maior surpresa da minha Flip, Eliane Brum. Impossível de ser descrita com minhas própria palavras, descrevo-a com as suas:
“Não sei muito sobre mim mesma. Quando acho que sei um pouco, eu mesma me desmascaro e escapo de mim. Mas se tenho alguma certeza é a de que sou repórter. Meu ofício é encontrar o que torna a vida possível apesar de tudo, a delicadeza na brutalidade do cotidiano, a vida na morte. Sou alguém que tenta viver duvidando o tempo todo das certezas, das minhas e das alheias. E por isso estou sempre em carne viva”
As ruas de Paraty são poesia pura. Nada práticas, mas intrinsecamente poéticas. Aprendi muito com elas na correria dos dias de festa, nas divertidas noites da Flip.
Trabalhei pra valer, me diverti pra valer. E como valeu...