Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manuel Bandeira)
Esses versos sempre me impressionaram. A primeira vez que li, foi ainda no Ensino Fundamental, no início da minha adolescência. Nunca mais saíram da minha cabeça. Até que essa semana os versos do poeta se materializaram a poucos metros de mim. O jovem rapaz, quase um menino, revirava de maneira voraz o lixo à minha frente. E eu, na minha impotência, somente observava com os versos de Bandeira vindo à mente, mais chocantes que nunca: Meu Deus, era um homem!